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Terça-feira, 05 de novembro de 2024







Vinte e um anos depois, Pablo Escobar ainda assombra a Colômbia

Barão das drogas era um dos homens mais poderosos do país até ser morto a tiros em 1993

Escobar-colômbia

Escobar ainda assombra a Colômbia
Por Nils Naumann

O touro sangrando fixa os olhos na capa do toureiro, abaixa a cabeça, raspa o chão com as patas e sai correndo. Num movimento elegante de fuga, o toureiro torna ineficaz o ataque do animal feroz. Em seguida, ele espeta a espada no touro, que cai. A multidão aplaude.

É fim de semana e a praça de touros em Medellín, na Colômbia, está abarrotada de gente, que aproveita para beber da abundante aguardente de cana. Na tribuna da arena, Danilo Jimenez e sua banda Marco Fidel Suarez tocam música tradicional para alegrar o ambiente. Até este momento, o dia transcorreu bem para os músicos.

Jimenez e seus colegas deixam a praça de touros. De repente, ouvem uma explosão ensurdecedora. Estilhaços voam pelo ar, tomado pela fumaça. Pessoas gritam pedindo ajuda. Em toda parte, Jimenez vê corpos mutilados e carbonizados. Ele nota que sua cabeça está sangrando de uma ferida aberta. Logo em seguida, o músico perde a consciência.
O cérebro de Jimenez é severamente danificado pela explosão. Nos anos seguintes, ele vive num coma parcial. “Eu voltei à vida muito lentamente. Era como se eu estivesse acordando de um sonho”, explica.

No ataque realizado em fevereiro de 1991, 25 pessoas morreram – entre eles, três músicos. A esposa de Jimenez também ficou gravemente ferida e em, 2007, faleceu devido às sequelas. Para Jimenez, não há dúvidas sobre quem é o culpado: “Pablo Escobar. Havia muitos policiais em frente à praça, e Escobar queria matá-los. Pablo pagava em espécie pela cabeça de cada policial assassinado. Ele pouco se importava com o destino das outras vítimas”, relata o músico.

Ofensiva contra o Estado

Na época, Escobar havia declarado guerra contra o Estado. “Nós temos que criar um caos absoluto, declarar uma guerra civil total”, disse o traficante mundialmente famoso a outros barões das drogas, numa conversa telefônica gravada pela polícia. “Assim, eles vão nos pedir paz.”

O objetivo da ofensiva era proibir uma extradição, já que nada dava mais medo ao chefe do cartel de Medellín – que na época controlava cerca de 80% do comércio mundial de cocaína – do que ser entregue aos Estados Unidos para julgamento.

Escobar manda matar políticos, juízes e policiais, explode um avião no ar e coloca bombas em frente a prédios do governo. Milhares de pessoas morrem, mas tanto terror surte efeito: o Estado proíbe a extradição, satisfazendo Escobar.

Numa coletiva de imprensa em junho de 1991, ele diz que quer comparecer perante a Justiça: “Depois de sete anos de perseguição e lutas, eu vou para a cadeia pelo tempo que for necessário para contribuir para a paz da minha pátria amada, a Colômbia.”

O país respira aliviado. Escobar vai para uma cadeia privada chamada La Catedral (“a catedral”), que é construída de acordo com os planos do barão das drogas, ostenta todo tipo de luxo e conforto e é vigiada por homens do próprio Escobar.

A Catedral torna-se o novo centro do cartel de drogas de Medellín. O local passa a ser local de recepção para visitantes e palco de assassinatos de inimigos de Escobar, até que o governo colombiano resolve colocar um ponto final na situação, respondendo aos apelos da opinião pública.

Escobar costuma estar sempre muito bem informado e desta vez não é diferente. Em julho de 1992, antes de as autoridades conseguirem transferi-lo para outra prisão, o chefe da máfia foge.

Começa então uma caçada sem precedentes, envolvendo a polícia colombiana, a agência antidrogas dos Estados Unidos (DEA, na sigla em inglês) e a o serviço secreto americano, a CIA. Paralelamente, uma espécie de esquadrão da morte de um cartel inimigo de Escobar dizima o cartel de Medellín com o apoio da polícia. Escobar está cada vez mais encurralado.

O barão das drogas acaba sendo pego por causa de um telefonema para a mulher e os filhos. A polícia o localiza em um prédio no centro de Medellín. Durante o cerco ao edifício, Escobar, de 44 anos, é morto a tiros no dia 2 de dezembro de 1993. Seus adversários festejam.

Mas o luto se mistura à euforia pela morte de Escobar. No funeral na sua cidade natal, Medellín, milhares de seus seguidores rodeiam o caixão e querem prestar as últimas homenagens àquele que consideram um herói: Escobar havia doado dinheiro aos pobres, construído casas para moradores de um depósito de lixo e dado emprego a muitas pessoas.

Por muitos anos, até mesmo o músico Danilo Jimenez tira proveito de Escobar. Ele e sua banda sempre tocavam em eventos e festas privadas do chefe da máfia.
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Danilo Jimenez (de terno cinza, no centro) e sua banda animavam eventos de Escobar. Créditos: DW/ Nils Naumann
“Se não tivéssemos feito isso, outros o teriam feito”, diz o músico. “Naquela época, havia uma grande quantidade de dinheiro aqui. Todos se beneficiavam disso, todos queriam viver bem, se aproveitar do Pablo. Todo mundo sabia o que Pablo fazia.”

O barão das drogas era um dos homens mais ricos do mundo, e os recursos obtidos com o tráfico de drogas também fluíram para a economia legal. “Pablo Escobar dominava toda a cidade e se infiltrou no país inteiro”, diz a socióloga Alejandra Echeverri, da Universidade de Medellín. “Todo mundo aqui conhece alguém que já teve alguma coisa a ver com o tráfico de drogas.” Inclusive Echeverri: sua tia era secretária de um primo de Pablo Escobar.

As ligações entre a máfia e vários setores da economia e da sociedade nunca foram realmente esclarecidas. Após a morte de Escobar, começou um período de repressão coletiva. À primeira vista, Medellín mudou: a cidade tornou-se mais segura e houve muito investimento em infraestrutura por empresas internacionais – e o turismo está crescendo.

Mas a cultura dos traficantes de drogas ainda está presente, explica Echeverri. “A história se repete. Os pequenos assassinos de Pablo agora são os chefes das gangues. O tráfico de drogas, a corrupção, a lógica da abundância e do dinheiro fácil, tudo isso ainda faz parte da vida cotidiana”, constata a socióloga. Segundo ela, Pablo Escobar continua sendo um mito especialmente para a geração mais jovem nas favelas.

Quanto à Colômbia, 20 anos depois da morte de Escobar, o país ainda é o maior exportador de cocaína do mundo. Um negócio muito lucrativo para muita gente. No entanto, há muito tempo, o músico Danilo Jimenez lamenta ter se envolvido com um barão das drogas como Pablo Escobar: “Ele praticamente nos tirou a vida. Mas eu o perdoei. Eu não sinto ódio. Ódio acaba com as pessoas. Deus já o julgou.”


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