O Residencial Orgulho do Madeira, localizado no bairro Mariana, na Zona Leste de Porto Velho, tornou-se o foco de uma intensa escalada de violência que mobilizou forças de segurança estaduais e federais em Rondônia. Inaugurado em 17 de dezembro de 2015 pelo governo estadual, o conjunto habitacional abriga cerca de 15 mil pessoas em apartamentos destinados, originalmente, a famílias de baixa renda. Hoje, no entanto, o local é apontado pela Polícia Militar como um dos principais redutos da facção Comando Vermelho na região.
Na última sexta-feira, uma viatura da PM foi alvejada a tiros durante uma perseguição nas proximidades do residencial. O clima de tensão aumentou no domingo, quando o cabo da Polícia Militar Fábio Martins foi executado com seis tiros na cabeça dentro do Orgulho do Madeira. O agente, que morava no local, estava de folga no momento do crime.
Ainda no domingo, suspeitos tentaram explodir um totem de segurança instalado no conjunto. No dia seguinte, após um dos chefes do Comando Vermelho ser morto pela PM em uma ação no condomínio, criminosos atearam fogo em um ônibus da linha que atende aos moradores do local, marcando o início de uma série de ataques em Porto Velho.
Mais de 20 ônibus foram incendiados
Porto Velho e outras cidades de Rondônia enfrentam uma onda crescente de ataques criminosos, com 21 ônibus incendiados nos últimos três dias. Na madrugada desta quarta-feira, 18 coletivos foram queimados, sendo cinco de uma escola e 13 da prefeitura da capital, que chegou a pedir ajuda ao Exército. Outros três ônibus foram incendiados no interior do estado entre segunda e terça-feira, quando criminosos também tentaram atear fogo no carro de um morador e em uma viatura da PM.
Os ataques, segundo a Polícia Militar, são retaliações da facção contra as operações realizadas no Orgulho do Madeira. Em áudios obtidos pela CNN, supostos integrantes do Comando Vermelho ameaçam o transporte público da cidade. Em uma das gravações, o criminoso explica que vai usar garrafa de vidro e gasolina nos ataques para fechar “as saídas”.
Além disso, operações de combate ao crime organizado no conjunto habitacional já vinham ocorrendo desde o fim de 2024, como parte da iniciativa “Aliança pela vida, moradia segura”. Essas ações recuperaram cerca de 70 apartamentos que haviam sido invadidos por criminosos que expulsaram os moradores, além de apreensões de drogas e armas.
Para conter a crise, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) autorizou o envio de mais agentes da Força Nacional, que reforçarão a segurança por um período inicial de 90 dias. Parte do efetivo já está a caminho, com chegada prevista para esta quinta-feira.
Desde sua inauguração, o Residencial Orgulho do Madeira enfrentou desafios relacionados à segurança. Destinado a ser um espaço de recomeço para muitas famílias de baixa renda, o conjunto acabou se tornando palco de operações policiais e ações criminosas.
Procurado, o Governo do Estado de Rondônia não se manifestou até a publicação da reportagem.
POR: O GLOBO
