A inflação do Brasil fechou 2021 em mais de 10,06%. Foi o maior valor que o país registrou desde 2015, quando tivemos um IPCA de 10,67%.
A inflação do Brasil é a terceira maior do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo. Só está atrás da subida de preços na Turquia (36,1%, o maior valor em 20 anos por lá) e Argentina (51,2% registrados somente até novembro).
Um dos produtos que mais subiram de preço no Brasil foi a carne. No ano passado, o consumidor chegou a pagar 40% pelo produto comparando com 2020. Isso fez com o que o consumo atingisse os níveis mais baixos desde 2005. A situação econômica está tão grave que houve diversos relatos de pessoas fazendo fila para comprar ossos.
O aumento no preço da carne, no entanto, não é um problema unicamente brasileiro. Os EUA tiveram uma inflação de 21% do produto no ano passado. O presidente Joe Biden resolveu, então, elaborar um plano para tentar baratear o alimento a partir de um pacote de 1 bilhão de dólares que visa oferecer subsídios, empréstimos e treinamento para o pessoal que trabalha nesse setor.
A equipe do governo democrata argumenta que o plano econômico visa estimular uma concorrência maior no mercado de processamento de carnes. Além disso, alguns especialistas apontam que há uma escassez de mão de obra e problemas na cadeia de abastecimento causados pela pandemia.
Para Nelson Roberto Furquim, engenheiro de alimentos e professor do Mackenzie, não é certo que o plano Biden possa dar certo no curto prazo. “Há quem considere essa política muito simplista, que não vai dar resultado imediato. Porém, outra corrente enxerga como um ponto de virada mesmo, uma indicação que no médio prazo já possa trazer benefícios com os pequenos processadores ganhando participação no mercado”, analisa.
Política de Biden poderia ser copiada pelo Brasil?
Com a alta dos preços e a queda do consumo de carnes nos últimos meses, a pergunta que fica é se o governo poderia fazer algo para aliviar a inflação do produto, até tendo como inspiração a política do presidente norte-americano. Não é tão fácil quanto parece.
“Questões da cadeia produtiva precisam ser melhoradas. O custo da pecuário como um todo é elevada. É preciso ter ganho de produtividade e eficiência. Assim você diminui o custo e define o preço final. Também é preciso fortalecer a renda dos consumidores e direcionar parte da produção para o mercado local. Hoje, é muito mais atrativo exportar por causa da desvalorização da nossa moeda. Uma reversão do câmbio pode ser positiva para o mercado”, explica Furquim.
A carne aumentou de preço no Brasil por causa de fatores como o clima (seca acentuada no Centro-Sul, por exemplo) e custo mais caro da ração (soja e milho) do gado. Além disso, há um menor número de animais para o abate e a retomada do rebanho não acontece rapidamente. A reposição leva nove meses. “A carne mantida em armazenamento mais frio também encarece o produto. Açougues e supermercados podem comprar as peças em momentos que estão mais baratas e estocam os produtos. Em períodos de maior consumo, como nas festas de fim de ano, os preços sobem. O varejo aproveita essa situação”, explica o professor do Mackenzie.
Expectativas para 2022
A maioria dos relatórios sobre inflação aponta para uma subida menos agressiva dos preços para este ano. E isso inclui a carne. Entretanto, o crescimento da renda é fundamental para que o consumo do produto aumente sem pressionar a cadeia como um todo. “Para que o preço caia precisamos estimular a produção. E para isso precisamos que a economia se recupere. Os indicadores apontam que ela está patinando e não deve haver uma mudança significativa para 2022. Se não houver aumento de renda, nada vai mudar”, explica Nelson Furquim.
E o ano de 2022 não deve pressionar apenas o preço da carne. O brasileiro deve sentir nos próximos meses que alguns itens ficaram “salgados” na hora das compras.
“Se a gente olhar ao longo de 2021, tivemos uma série de problemas ambientais que geraram impactos nas colheitas. Os fretes estão caríssimos por causa do combustível utilizado. Houve escassez de mão de obra por causa da pandemia e a crise energética elevou o preço dos fertilizantes, o que também impacta o preço dos alimentos. Eu aponto que o café vai ficar mais caro, com problemas na produção, oferta mundial comprometida e baixa produção local por causa das geadas. O frango, que virou uma alternativa às carnes bovina e suína, deve ter sua demanda aquecida e o custo de produção continuará subindo. E finalmente o trigo. Apesar de alguns sinais apontando que a produção vai crescer, o Brasil não é autossuficiente e precisa importar. Nossos maiores parceiros nessa área são Argentina e EUA. Ficamos reféns do preço internacional e da oscilação do dólar. E tudo isso acaba sendo repassado aos alimentos derivados, como pães, massas, farinha etc”, finaliza Nelson Roberto Furquim, engenheiro de alimentos e professor do Mackenzie.
Fonte: Yahoo Finanças