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Quarta-feira, 06 de novembro de 2024







Operação do Ministério Público de Goiás desarticulou organização criminosa comandada por padre Robson, acusado de movimentar dois bilhões de reais

Ultimamente, o que não falta e operação para desarticular esquemas criminosos que estão ocorrendo em todo o território nacional brasileiro. Acredito que, em breve, deve falta nome para “batizar” as próximas operações, sejam pelas Polícias Civil, Militar, Federal, Ministérios Públicos Estaduais, Tribunais de Contas, Ministérios Públicos Federais, Controladoria Geral da União e Tribunal de Contas da União. A última operação, realizada na sexta-feira passada (dia 21/08/2020), ocorreu na cidade de Trindade (GO), distante da capital do Estado de Goiás, Goiânia, apenas 18 km. Mais precisamente na Associação Filhos do Pai Eterno e Perpétuo Socorro e Associação Pai Eterno e Perpétuo Socorro (AFIPE), comanda pelo padre redentorista Robson de Oliveira Pereira, presidente desta entidade religiosa. O nome da operação é sugestivo: “Vendilhões, que significa uma passagem bíblica do Novo Testamento, conhecida como limpeza do Templo, na qual Jesus expulsou vendilhões (ou ambulantes) inescrupulosos do Templo de Jerusalém.

O episódio é um dos eventos do ministério de Jesus narrado nos quatro evangelhos canônicos do Novo Testamento. Segundo as escrituras, Jesus e seus discípulos viajam a Jerusalém para a Pessach (a Páscoa judaica) e lá ele expulsa os cambistas do Templo de Jerusalém (o Templo de Herodes ou ‘Segundo Templo’), acusando-os de tornar o local sagrado numa cova de ladrões através de suas atividades comerciais. No Evangelho de João, Jesus se refere ao Templo como “casa de meu Pai”, clamando para si assim o título de Filho de Deus. Este é o único relato de Jesus utilizando-se de força física nos evangelhos.

Segundo o MPGO, que chegou a pedir a prisão do padre Robson, negada pela Justiça, são investigados possíveis crimes de apropriação indébita, lavagem de dinheiro, organização criminosa, sonegação fiscal e falsidade ideológica. Foram bloqueados judicialmente R$ 60 milhões em bens imóveis e valores em contas bancárias dos envolvidos. De acordo com o promotor de Justiça Sebastião Marcos Martins, que coordenou a ação, uma movimentação financeira equivalente a R$ 1,7 bilhão está sendo analisada. A fraude não atinge todo esse valor, mas, a partir da documentação apreendida, o MP irá apurar o montante eventualmente desviado. O dinheiro, proveniente de doações dos católicos para a construção da nova Basílica em Trindade – conhecida como ‘capital da fé de Goiás’ – teria sido usado na compra de imóveis, propriedades rurais, cabeças de gado e emissoras de rádio. Entre os imóveis ligados ao padre Robson está uma chácara com piscina aquecida. Um imóvel de R$ 2 milhões na Praia de Guarajuba, na Bahia, teria sido comprado à vista pela AFIPE, em 2014.

A compra foi efetuada de uma empresa chamada Sistema Alpha de Comunicação, que também é investigada. “As contas bancárias da AFIPE foram usadas para comprar fazendas, residências em condomínio fechado, apartamentos em São Paulo e Goiânia, fazendas em todo o Brasil, mineração. Quer dizer, a AFIPE é hoje uma grande empresa. Ela tem o argumento religioso, mas se converteu em uma grande empresa no Estado de Goiás que explora inúmeras atividades, agropecuária e mineração, compra inúmeros imóveis e vende inúmeros imóveis”, disse o promotor Sebastião Marcos Martins. A investigação que resultou na Operação Vendilhões teve início em 2019, a partir da condenação de um grupo criminoso que praticou extorsão contra padre Robson. Na ocasião, cinco pessoas exigiram mais de R$ 2 milhões para que não fossem divulgadas imagens e mensagens eletrônicas com informações pessoais, amorosas e profissionais que prejudicassem a imagem do religioso. O processo foi enviado ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Goiás, para descobrir a origem do dinheiro utilizado para pagamento de parte do valor ao grupo criminoso.

FALANDO COM PROPRIEDADE

Na verdade, essa operação e aquela denominada de Amigos do Rei, que aponta o juiz Herculano Nacif, morto em 2015, em acidente automobilístico na BR-364, próximo do distrito de Jacy-Paraná, distante a 100 km da capital do Estado de Rondônia, Porto Velho, me causaram enorme surpresa, principalmente a última, que trata de uma pessoa e uma congresso que foram muito importantes na vida religiosa por 04 (quatro) anos, como seminarista da Congregação dos Padres Redentoristas, que tinha sua sede central na Praça da Matriz, onde está localizada a Igreja Matriz, no Bairro Campinas, Goiânia. Há muitos anos atrás, felizmente, consegui concluir o curso de filosofia pelo Instituto de Filosofia e Teologia do Estado de Goiás (IFITEG), ligado à Universidade Católica do Estado de Goiás, pertencente à Igreja Católica.

Padre Robson de Oliveira Pereira nasceu na própria cidade de Trindade. Aos 14 anos, ingressou para o Seminário São José, que antes era instalado no Bairro Cidade Jardim, Goiânia. Foi no seminário que o conheci, porém ainda não era seminarista, apenas vocacionado, ou seja, uma pessoa interessada em ser religioso, pela Congregação dos Padres Redentoristas, que precisa fazer 03 (três) votos caso consiga se ordenar padre religioso, a saber: castidade, obediência e pobreza. Aos domingos, no seminário, todos os seminaristas (ao todo, éramos quase 70 jovens), dávamos aula de catequese, quando padre Robson frequentava e posteriormente, começou sua vida sacerdotal na cidade de Trindade, onde se deu a operação do Ministério Público do Estado de Goiás, por sinal, muito bem conduzida pelos membros da GAECO, grupo especial do parquet goiano, de combate à organização criminosa.

Em 2018, quando eu e minha esposa estivemos na cidade de Goiás, antiga capital do Estado de Goiás (hoje Goiânia), tive conhecimento, muito superficialmente, de que o padre Robson estava sendo investigado desde 2017 e que logo estaria para explodir essa bomba, do tamanho daquela que caiu nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, por ocasião da 2ª guerra mundial. E de fato ocorreu, no último dia 21/08/2020, na cidade de Trindade, causando um estrago de difícil reparação na vida de todos os católicos brasileiros, que, em grande maioria, tinham no padre Robson uma espécie de “santo goiano”.

A denúncia do Ministério Público do Estado de Goiás contra o padre Robson é muito consistente, robusta e forte. Apesar de um órgão independente, o parquet estadual tem forte ligação com o atual governador de Goiás, Ronaldo Caiado, inimigo mortal de alguns padres redentoristas “vermelhos”, como são chamados os sacerdotes ligados à teologia da libertação, criada em 1970 pelo bispo de Goiás, Dom Tomaz Balduíno, falecido em 2014, que também criou a Comissão Pastoral da Terra, uma entidade ligada à luta dos trabalhadores sem-terra no Brasil, porém um pouco diferente de atuação do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, liderada por Stédile, um camponês que aprendeu a militância bem cedo nos pampas gaúchos, tendo líder maior Leonel Brizola, que morreu de “desgosto” por não conseguir “acabar” com o império da rede Globo. Ronaldo Caiado, hoje governador de Goiás, odeia esse pessoal. Médico de profissão e nascido na cidade de Anápolis, a 50 km de Goiânia, à beira da rodovia para quem vai e vem de Brasília, militou muito pouco na profissão na cidade Anapolina e depois foi trabalhar na cidade de Goiânia, onde criou uma Clínica dos Acidentados, no bairro nobre da capital, Setor Oeste. Esse hospital é muito próximo da Assembléia Legislativa e foi com essa aproximação, tornou-se um político sempre vencedor de campanhas eleitorais no Estado de Goiás e seu último mandato foi como senador pelo partido do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, dos Democratas. Caiado, como vocês sabem, para contrapor à criação da CPT, criou a UDR (União Democrática Ruralista), uma entidade hoje que perdeu sua expressão nacionalmente em razão de Ronaldo Caiado não mais se envolver mais proximamente com essa nos últimos anos, em razão de sua militância da política no Estado de Goiás.

Quando tornou-se governador por esse Estado, as portas se abriram para maior enfrentamento aos padres “vermelhos” e uma das suas ações, possivelmente, esteja a de querer desbaratar essa organização criminosa comandada por padre Robson, que é muito amigo e próximo do ex-governador de Goiás, Marconi Perillo, nome que dá até arrepio nos braços de Ronaldo Caiado. Aqui em Rondônia, seria mais ou menos, igual o “relacionamento harmonioso “ entre Adriano Boiadeiro e Lebrão.

SANTO AFONSO, CRIADOR DOS REDENTORISTAS

Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787) foi um bispo, escritor e poeta italiano. Fundou a congregação religiosa dos Padres Redentoristas. Estudou na Universidade de Nápoles e aos 16 já estava formado em direito Civil e Canônico. Como advogado, conseguiu renome mas abandonou tudo para se dedicar a vida religiosa e sua opção era atuação prioritária aos mais pobres, diferentemente de padre Robson, que se tornou uma espécie de “pai dos ricos” no Estado de Goiás, onde conquistou a elite goiana católica no seu projeto de construção da Basílica Nova, iniciada em 2012, em construção apenas na base, em um terreno muito grande próximo da Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade. No centro desta cidade, foi construída a primeira igreja pelos padres redentoristas, hoje chamada de “Basílica Velha”, onde fui batizado no tempo em que amarrava cachorro com “linguiça”.

HISTÓRIA DOS REDENTORISTAS EM GOIÁS

Na verdade, na história dos padres redentoristas no Estado de Goiás começou a ser construída pelo Padre Pelágio Sauter que nasceu em 09/09/1878, na aldeia de Hausen amo Thann, na Alemanha. Foi batizado três dias depois. Seus pais, Matias Sauter e Maria Neher, tiveram 15 filhos. Dois deles, Pelágio e Gaspar, tornaram-se padres redentoristas. Em 1892, Pelágio recebeu os Sacramentos da Primeira Eucaristia e do Crisma. Trabalhou dois anos como aprendiz de serralheiro em uma cidade vizinha. Em 1894, ingressou no Seminário Redentorista, em Bachham. Estudou ainda em Dürrnberg (onde foi aluno do Bem-aventurado Pe. Gaspar Stangassinger) e terminou seus estudos ginasiais em Gars am Inn.

Em 8 de setembro de 1902, consagrou-se a Deus pelos votos religiosos de pobreza, castidade e obediência. No dia 16 de junho de 1907, foi ordenado sacerdote por Dom Antônio Henle, em Deggendorf. Quando convidado para vir ao Brasil, aceitou logo, pois sempre quis trabalhar nas missões estrangeiras. No dia 6 de agosto de 1909, desembarcou no Rio de Janeiro, ao lado de mais quatro confrades. Nunca mais voltaria a rever sua pátria. Faleceu no dia 23 de novembro de 1961, na Santa Casa de Misericórdia de Goiânia. Durante os 52 anos em que viveu no Brasil, Pe. Pelágio Sauter sempre foi muito dedicado em sua missão.

Nos cinco primeiros anos, ele atuou em algumas paróquias de São Paulo. Em seguida, veio para Goiás, onde cumpriu sua missão pelos 47 anos restantes. Nesse período, desenvolveu múltiplas atividades pastorais. Nunca foi superior canônico. Seu apostolado predileto foram as “desobrigas” no sertão goiano. Quando percorreu centenas de comunidades, quase sempre a cavalo, evangelizando os fiéis que moravam mais afastados. Foi com esse trabalho que ele foi se tornando cada vez mais conhecido e estimado pelo povo. O local onde mais trabalhou foi Trindade (GO). Naquela época, os romeiros que faziam a peregrinação, em devoção ao Divino Pai Eterno durante a Festa, não voltavam para casa sem receber também a bênção do Pe. Pelágio. Em 2005, foi inaugurada no município a Igreja do Santíssimo Redentor.

Hoje, ela é também conhecida como Igreja do Padre Pelágio, pois foi destinada a acolher os restos mortais do Missionário Redentorista. Não tinha hora marcada para os que o procuravam em suas aflições e necessidades. Segundo as crônicas dos Redentoristas, em apenas um ano de missão, padre Pelágio visitou cerca de 300 enfermos. Seus últimos cinco anos de vida foram dedicados unicamente à Pastoral dos Enfermos. As bênçãos que dava na Igreja Matriz de Campinas (atual Santuário Basílica de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro), em Goiânia, todos os dias de manhã e à tarde, ficaram famosas. Contam-se muitas curas extraordinárias. Algumas não tiveram explicação médica. Até mesmo a sua morte está ligada a um de seus atos de caridade, pelo trabalho evangelizador que ele desempenhava.

No caminho de volta, quando foi visitar uma pessoa que estava enferma, o Missionário Redentorista foi surpreendido por uma chuva, o que ocasionou forte pneumonia. Seu estado ficou grave. Foi internado na Santa Casa de Misericórdia, em Goiânia, mas sobreveio um enfisema pulmonar, com outras complicações, agravadas pela idade. Após uma semana de sofrimento, padre Pelágio Sauter morreu santamente às 13 horas do dia 23 de novembro de 1961. Ele tinha 83 anos. Cerca de 40 mil pessoas compareceram ao seu enterro e realizaram uma vigília ininterrupta, com diversas orações. Diante de tão grande fama de santidade e popularidade, em 1997 foi pedido à Sagrada Congregação das Causas dos Santos que se instalasse o processo de sua beatificação e canonização, o que foi concedido. O processo já venceu várias etapas e continua tramitando no Vaticano. No dia 7 de novembro de 2014, Papa Francisco proclamou Venerável o padre Pelágio Sauter. O título representa uma das etapas mais trabalhosas e exigentes da causa de canonização e abre os caminhos para continuar o estudo sobre sua santidade. No dia 23 de novembro de 2018, quando se completaram 57 anos de sua morte, foi proclamada na Província Redentorista de Goiás a abertura do Ano Devocional pela Beatificação de padre Pelágio Sauter.

A decisão de realizar foi tomada pelos Missionários Redentoristas de Goiás durante o Capítulo Provincial de 2017 e tem a intenção de propagar a devoção ao padre Pelágio, mostrando aos devotos a importância das orações e da torcida para que a beatificação aconteça. Eu nasci um ano antes da morte do padre Pelágio. Seu corpo foi sepultado, primeiramente, no Cemitério Santana, próximo do campo de futebol do Atlético Clube Guianense, no Bairro de Campinas, mais precisamente na Avenida Independência. Depois, com muita dificuldade, foi levado para a Igreja Matriz, no mesmo bairro, onde sua sepultura foi feita dentro da própria igreja e muito visitada pelos fiéis católicos.

FUTURO DA CONGRESSÃO

Não resta a menor dúvida de que essa operação que trouxe à população relatos inesperados sobre as atividades ilícitas do padre Robson na presidência de uma associação, responsável de angariar fundos (ativo financeiro-dinheiro), arrecada mensalmente em torno de 20 milhões de reais. A Basílica Nova em construção, desde 2012, não sai da primeiras bases e pilares, enquanto a entidade dirigida pelo padre Robson usava recursos financeiros para comprar bens, como apartamentos, avião, fazendas, carros de luxo, construção do prédio da própria entidade na cidade de Trindade, emissoras de rádio (três), entre outros bens, que os investigadores chegaram a dizer à imprensa, que o núcleo da organização chegou a movimentar desde 2004, aproximadamente, 10 bilhões de reais, enquanto a igreja nova não sai do “projeto” de erguer um dos templos do catolicismo que poderá ser considerado o maior do Brasil, superando a Basílica de Aparecida do Norte (SP), também dos padres redentoristas, porém administrada sempre por bispos extremamente corretos, honestos e que não têm visão voltada à grana como o padre Robson, que de um simples seminaristas, aos 14 anos de idade, se tornou uma das maiores celebridades do Brasil, em termo de pregação e aglomeração de católicos em uma só celebração.

CONCLUSÃO

A AFIPE, a entidade criada pelo padre Robson, agora, sofrerá um baque violento em termos de arrecadação e dificilmente os devotos do Divino Pai Eterno vão acreditar que essa obra de construção de nova basílica seja verdadeira. O futuro da Congregação dos Padres Redentoristas só depende dos próprios dirigentes: voltar às origens, ou seja, largar de se aproximar na coisa material para dedicar-se à causa dos pobres, como desejou Santo Afonso Maria de Grigório, quando priorizou aqueles que não têm nada como o principal a ser assistido pela ordem religiosa. Caso contrário, será uma entidade desacreditada, sem moral para falar em nome dos “pobres” e poucos interessados de se tonar padres redentoristas, fato esse que é crescente, a contar por mim, uma vez que não via e não vejo coerência da vida diária como padres desapegados de bens, motivo pelo qual me afastou completamente de seguir na vida religiosa, porém não me impediu de continuar na Igreja Católica como uma religião que pretendo seguir enquanto tiver vida, dada ao grande amor e respeito que tenho por ela. Com relação ao que padre fez, o vídeo que acompanha essa matéria relata com precisão, feito pela equipe do Fantástico, apresentado ontem em rede nacional, uma verdadeira bomba na cabeça daqueles que achavam o padre Robson o “profeta do amor” e que não passa de um “salafrário”, que nem de longe parece um vigário. (Jornalista Ronan Almeida de Araújo – DRT-RO 431-98).

 


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