Na Semana Nacional de Controle e Combate à Leishmaniose, o Hospital Bom Pastor, localizado em Guajará-Mirim (RO), reforça as orientações de prevenção e os riscos da doença. Gerenciado pela Pró-Saúde, o hospital atua diretamente no atendimento de casos, sendo referência em saúde indígena para mais de 50 aldeias na região Amazônica.
Instituída pela Lei 12.604, em 2012, a data tem como objetivo principal promover ações educativas e preventivas, sendo celebrada anualmente durante a semana do dia 10 de agosto.
A Leishmaniose é uma doença infecciosa, não contagiosa, causada por parasitas que se instalam em insetos hematófagos (que se alimentam de sangue), como a espécie Lutzomya longipalpis, popularmente conhecida como mosquito-palha ou tatuquira. A transmissão ocorre através da picada de fêmeas infectadas, prevalentes em lugares úmidos, escuros e com muitas plantas.
A doença se divide em dois tipos. A cutânea, ou tegumentar, causa feridas na pele e lesões inflamatórias na parte interna do nariz e na boca. Já a visceral, ou calazar, é a forma mais grave e atinge todo sistema imunológico, acometendo vários órgãos internos, principalmente o fígado, o baço e a medula óssea.
Márcia Guzman, médica do Hospital Bom Pastor (HBP), destaca que “são sintomas diferentes para cada tipo. Na cutânea, atenção ao surgimento de feridas pequenas, purulentas e avermelhadas, que aumentam com o tempo e demoram para cicatrizar”. Já a leishmaniose visceral é caracterizada por anemia, indisposição, falta de apetite e inchaço do abdômen. “Sem tratamento, pode levar à morte, por isso, qualquer sintoma semelhante, ou acompanhado de febre e mal-estar, devem ser acompanhados por um profissional da saúde”, alerta Márcia.
Boletim do Ministério da Saúde aponta que em 2020 foram registrados 1.933 casos de leishmaniose visceral no território nacional. A região Norte do país é a segunda em número de casos, atrás apenas do Nordeste, com 308 registros.
Em relação ao tipo cutâneo, dados registrados no Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (SIASI), entre 2015 e 2019, apontam que as cidades de Vilhena e Porto Velho apresentaram os maiores índices do estado de Rondônia, com 398 e 90 novos casos, respectivamente. O órgão indica, ainda, que no mesmo período, houve um total de 150 casos confirmados da doença em indígenas localizados no estado. Destes, 78,7% são homens, com o perfil jovem, variando de 10 a 34 anos de idade.
“O ambiente da floresta amazônica favorece o surgimento da doença já que os insetos transmissores costumam habitar regiões de matas onde estão as aldeias. Os povos indígenas são fortemente afetados, já que práticas que fazem parte de seu estilo de vida, como pescar, tomar banho em rios ou igarapés e caçar, aumentam os riscos”, detalha Márcia Guzman.
Formas de prevenção à doença
Até o momento não há vacina disponível contra as leishmanioses humanas. Por isso, a prevenção e combate se concentram em ações como o controle de vetores, proteção individual, diagnóstico precoce e tratamento. O Ministério da Saúde destaca algumas ações simples podem ser tomadas a fim de evitar o risco de transmissão:
Sempre que possível, utilizar repelentes contra insetos nos ambientes que favorecem o desenvolvimento de mosquitos vetores da doença;
Evitar a exposição ao amanhecer e final da tarde, quando os mosquitos estão mais ativos;
Utilizar mosquiteiros de malha fina em janelas, ao redor da cama ou berço, e portas;
Conservar a casa e locais próximos limpos;
Limpar periodicamente os abrigos de animais domésticos;
Se atentar à saúde de animais domésticos, que podem ser infectados pelo mosquito transmissor, como o cachorro.
O diagnóstico da Leishmaniose é realizado por meio de exames clínicos e laboratoriais. Desde 2021, há oferta de tratamento da doença com miltefosina, um medicamento capaz de tratar os dois tipos de leishmaniose. “Eficaz e acessível, o remédio é de uso oral, e sua oferta é garantida no SUS (Sistema Único de Saúde), como forma de facilitar o acesso e proporcionar maior adesão ao tratamento”, complementa a médica.