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Terça-feira, 05 de novembro de 2024







COMEMORAÇÃO: Municípios de Jaru e Ouro Preto do Oeste completam 40 anos nesta quarta

Apelidado de “Celeiro de Rondônia”, com 51,7 mil habitantes, 2,9 mil km², Jaru completa 40 anos nesta quarta-feira (16), movimentando operações de crédito bancário superiores a R$ 680 milhões. A 292 quilômetros de Porto Velho, a vila surgiu a partir de um dos postos telegráficos instalado em 1912 pela Comissão da Linha Telegráfica Estratégica Mato Grosso/Amazonas, chefiada pelo então coronel Cândido Mariano da Silva Rondon.
Em 1915, após passar alguns dias com sua família no Rio de Janeiro, o marechal Rondon viajou para o Rio Madeira, a fim de examinar as frentes de trabalho da Seção Norte: Guajará-Mirim, no rio Mamoré, e Jaru, no rio com a mesma denominação. A inspeção iniciou na vila de Santo Antônio, onde a estação foi instalada; seguiu depois para a estação de cachoeira do Samuel (distante 54 quilômetros de Santo Antônio); daí passou por São Pedro, Karitiana, Bom Futuro e Ariquemes, nas margens do rio Jamari e, finalmente, a do Jaru.
Todas essas estações telegráficas funcionaram interligadas às estações da Seção do Sul: Presidente Pena, Presidente Hermes, Pimenta Bueno, Barão de Melgaço, José Bonifácio e Vilhena. Emancipado em 1981, o município faz divisa com Cacaulândia, Ouro Preto do Oeste, Nova União, Governador Jorge Teixeira, Mirante da Serra, Theobroma, e Vale do Paraíso.
Jaru, 1985: período forte do ataque da malária na região
Teve célebres personagens entre os anos 1970, entre os quais, o seringueiro José Rodrigues Sobrinho; o barbeiro poeta Vicente; e o padre Adolpho Roh, e cada um deles protagonizou um pouco da síntese da região indígena e rural por onde transitou o presidente da República João Baptista de Oliveira Figueiredo.
Acompanhado do general Danilo Venturini, então ministro extraordinário de Assuntos Fundiários; do ministro da Agricultura Amauri Stábile; e do presidente do Incra, Paulo Yokota, João Figueiredo foi o único presidente a honrar colonos com a distribuição de títulos definitivos de terras, em ato solene na Unidade da Companhia Brasileira de Armazenamento em Ouro Preto, no ano de 1983.
Colonos de Jaru e de Ouro Preto lotaram o armazém, cujas faixas de tecido, no alto, estavam pintadas com frases de agradecimentos ao presidente.
O chamado Vale do rio Jaru, ocupado por antigos seringais e seringueiros desde o século XIX, estendeu seus domínios desde o rio Jaru, afluente da margem esquerda do rio Ji-Paraná, até às margens do alto curso do rio Madeira.
Não foi nas águas do rio, mas numa montanha na zona rural, que milhares de garimpeiros vindos de diversas regiões brasileiras extraíram ouro no município. Inspirados na Serra Pelada paraense, colocaram o nome na jaruense de Serra Sem Calças, de onde eles tiravam, em média, dez quilos de ouro por semana.
A cidade cortada pela rodovia BR-364 é polo leiteiro e agrícola
INFLUÊNCIA
 Em 1915, a Comissão Rondon estudou o rio Jaru, cuja ocupação ocorreu a partir da instalação do Projeto Integrado de Colonização Padre Adolpho Rohl, pelo Incra, em 1975.
Esse padre alemão pertencente à Congregação Salesiana foi um dos religiosos mais influentes na história recente dos municípios de Ji-Paraná e Jaru, entre as muitas que se destacaram o cumprimento da fé.
Padre Adolpho chegou em 1949 ao distrito de Vila Rondônia ([ex-Urupá e depois Ji-Paraná], a fim de trabalhar na evangelização católica. Foi ele quem ergueu a primeira capela do distrito de Vila Rondônia para a pequena comunidade ali existente, e construiu o Colégio Dom Bosco e o Hospital Nossa Senhora Aparecida, utilizando recursos de doações de parentes e admiradores alemães. A idealização da Igreja Matriz Dom Bosco, em Ji-Paraná também foi uma obra dele.
EMANCIPAÇÃO POLÍTICA
 Em 11 de outubro de 1977, no mesmo dia em que o então presidente Ernesto Geisel assinava a lei da divisão do Estado de Mato Grosso, criava-se o distrito de Jaru, pela Lei 6.448. Sandoval de Araújo Dantas foi nomeado seu primeiro administrador, permanecendo no cargo até 1979, quando foi substituído por Sebastião Ferreira Mesquita.
Sucederam-se diversos apelos pela emancipação, e ela veio pela Lei 6.921, de 16 de junho de 1981, embora a instalação ocorresse somente em 7 de novembro daquele ano, quando o engenheiro agrônomo Raimundo Nonato da Silva foi nomeado o primeiro prefeito, com mandato de 7 de novembro de 1981 a 31 de janeiro de 1983. Aí, tomou posse o primeiro prefeito eleito em 1982, Leomar José Baratela.
2021
Em abril, a Superintendência Estadual de Turismo (Setur) levou a Jaru o programa “Viva Rondônia”, com ações promocionais e o fortalecimento de ações que também contemplem esse município. A Setur reuniu hoteleiros e donos de pousadas, agentes de viagem, e dirigentes de turismo, o programa oferece um conjunto de ações de governança para capacitar, formar, construir, fortalecer e criar laços com todos os atores envolvidos nas atividades turísticas.
Em maio, o Departamento Estadual de Estradas de Rodagem e Transportes (DER) anunciava a continuidade da manutenção de estradas pavimentadas em Jaru. Ao todo, mais de 200 quilômetros foram recuperados ou pavimentados pela equipe da Usina de Asfalto de Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ).
Também naquele mês, no dia 4, o governo do Estado entregava o Centro Regional de Ressocialização Augusto Simon Kempe, com  7.506,25m², 44 celas coletivas comuns para oito internos cada, e outras quatro celas coletivas com acessibilidade para quatro internos, seis individuais, duas para triagem para oito internos, uma cela para triagem com acessibilidade para quatro internos e mais três celas individuais para triagem com acessibilidade.
 ESTATÍSTICA
PIB: R$ 1,31 milhão
Renda per capita: R$ 28,4 mil
IDH: 0,689 (2010)
OURO PRETO DO OESTE
Nos anos 1970, um projeto integrado do Incra dava os primeiros passos para o surgimento da pujante cidade
Quarenta anos de emancipação político-administrativa, 35,7 mil habitantes, 1,96 mil km²: Ouro Preto do Oeste também se originou da reforma agrária do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que ali instalou o Projeto Integrado de Colonização Ouro Preto (PIC), o primeiro no extinto Território Federal de Rondônia.
Seus vizinhos são: Jaru, Ji-Paraná, Nova União, Teixeirópolis, e Vale do Paraíso.
Bovinos, peixes, arroz, feijão, indústrias, agroindústrias e o pujante comércio deixam bem distante a fase cacaueira do município. Isso se reflete nos depósitos bancários em poupança, que somavam R$ 191,3 milhões em 2020, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Incra começou o PIC no dia 19 de junho de 1970, ano da Copa do Mundo no México, e assentou 5,16 mil famílias, cada qual recebendo um lote de 100 hectares de terras. O mosquito anofelino picava 24 horas, quase sempre colocando de 30 a 40 pessoas diariamente em redes, camas, ou, quando morriam, nas covas do cemitério.
Estimava-se o assentamento de apenas mil famílias, mas o projeto extrapolou, em consequência da migração desenfreada de famílias do sul e sudeste, rumo a Rondônia. A elas se somaram também outras que migraram de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais.
Oito anos depois, a região colhia cacau de qualidade e programava sua primeira exportação que teve como destino Hamburgo (então Alemanha Ocidental). Foram apenas 500 sacas, cerca de 30 toneladas, conforme apurava na ocasião a Comissão Executiva do Plano da Lavoura (Ceplac).
O grupo Fischer, que comprava essa amêndoa, comemorava em seu escritório. O primeiro coordenador do PIC, engenheiro agrônomo, Assis Canuto (ex-prefeito de Ji-Paraná, ex-deputado federal e vice-governador do Estado) acreditava no êxito da lavoura, apesar dos percalços sofridos em consequência da disseminação do fungo da vassoura-de-bruxa (Crinipellis perniciosa), destruidor.
“Porto Velho seria um polo exportador”, previa Assis Canuto.
Antes da doença se espalhar pelos cacaueiros de Ouro Preto e Ariquemes, o grupo Fischer havia conseguido financiamento da antiga Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e pretendia beneficiar as safras aqui mesmo.
O fungo da vassoura-de-bruxa é um dos males fitopatológicos mais perigosos para o plantio brasileiro; ataca principalmente os brotos, formando manchas e causando perdas enormes na produção. Em alguns casos, destrói a produção inteira, como ocorreu nesses municípios que iniciaram o plantio do cacau em Rondônia, nos anos 1970.
Segundo a Ceplac, os frutos dessa planta nativa da Amazônia foi um dos produtos mais exportados do Brasil, chegando a proporcionar US$ 3 bilhões, 618 milhões (três bilhões, seiscentos e dezoito milhões de doláres) no período de 1975 a 1980. Os maiores produtores são os estados do Pará, cuja exportação de amêndoas em 2019 chegou a 1,2 milhão de dólares; Bahia, que exportou 619 mil dólares do produto em 2020.
A situação inverteu-se no ano passado: somente nos dois primeiros meses de 2020, a Bahia havia exportado US$ 414 mil, enquanto o Pará mandava para o exterior US$ 207 mil de amêndoas. Estima-se que até 2023, o Pará supere a Bahia em produção. Parceria entre Ceplac, Entidade Autárquica de Assistência Técnica e Extensão Rural de Rondônia (Emater) e Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri), deverá possibilitar a Rondônia recuperar a produção cacaueira, hoje em torno de 12 mil hectares de cacau plantados, quase todos de plantas convencionais que aos poucos estão sendo substituídas pelas plantas clonais, com maior rendimento.
Bares e cinema eram os pontos de encontro dos ouro-pretenses nos anos 1970
TUDO ACONTECIA NO CINEMA
O jornalista Roberto Gutierrez Rocha depõe: “Lembro como se fosse hoje, 1973, à luz de vela, não havia luz elétrica na Sapolândia”.
O pai de Roberto, seu Agenor Rocha, que viveu 93 anos, foi proprietário do primeiro cinema da cidade, cujos projetores de 35 milímetros inauguraram o Cine Lacerda, em Porto Velho.
Afora a programação de faroestes, comédias e aventuras na selva, o salão do cinema marcou época com outra finalidade, recorda o jornalista: “Todas as reuniões importantes políticas da época, desde a instalação dos distritos, do município, à posse dos eleitos, mais as reuniões do (governador) Teixeirão, lançamentos do Projeto Mutirão, da própria Companhia de Desenvolvimento de Rondônia (Codaron), as primeiras sessões da Câmara dos Vereadores, tudo acontecia no cinema, e meu pai nunca cobrou nada por isso, nem mesmo o combustível usado para funcionar o motor de energia elétrica”.
PIONEIROS QUASE ANÔNIMOS
Segundo Roberto Rocha a plantação das mudas de cacau na Estação Experimental da Ceplac fora coordenado pelo agrônomo Frederico Álvares Affonso, e as fotos desse período ficaram algum tempo guardadas na Escola Isolada Doutor Joaquim de Lima Avelino. “Nelas estão muitos heróis anônimos que morreram lutando para garantir um pedaço de terra onde os inimigos não eram latifundiários, mas as doenças tropicais, entre elas, a malária, e os acidentes causados por derrubadas”.
Antes de receber o lote, migrantes acampavam em barracas cobertas de lona
“Muitos morreram esmagados por árvores em derrubadas, famílias inteiras dizimadas pela malária, uma história de muitos órfãos que hoje são avós”, conta o jornalista.
O ponto comercial mais importante era a cantina do capitão Sílvio de Farias, na entrada de Ouro Preto, onde eram distribuídos os mantimentos para as equipes que abriram as primeiras estradas vicinais. Eram dois acampamentos: do Machado e do Miache.
PERSONAGENS POLÍTICOS
“Trabalhavam ali os conhecidos Comara, Caribamba, Capixaba, Ezequiel, Quito, Agenor Nogueira da Rocha, Zefirino, e tantos mais que minha memória de um garoto de 13 anos não conseguiu guardar. A primeira linha aberta foi a 22, e nela morava o paranaense (de Ubiratã) João Dias, que foi vereador em Porto Velho e mais tarde deputado estadual pelo MDB”, lembra Gutierrez
Enquanto as linhas vicinais eram abertas – 1970 – o Incra, coordenado pelo agrônomo Assis Canuto, era o responsável pelo assentamento das famílias em lotes de 100 hectares.
Palmeiras já enfeitavam avenida (BR-364) nos anos 1980
O jornalista se lembra dos integrantes da equipe de Canuto: Ademar da Costa Sales, Praça Ferreira, Doutor Julimar Militão, Morluf, Augustinho Peniche, Nunoi Itsumi (depois prefeito de Ji-Paraná), Antônio Cunha, Eustáquio, Bosco, Paulo Brandão (do Incra); os guardas florestais Célio, Amaurino, Soares (empresário em Jaru) e Peniche; técnicos agrícolas Francisco Sales Duarte de Azevedo (depois, prefeito de Ariquemes e deputado federal), Genivaldo Souza (foi deputado estadual), Demerval Baiano da Ceplac, Professor Junqueira, pioneiro no plantio de café; Itabaiana, Adalberto da Ceplac, Barbosa, seu Oliveira…
E, ainda, dos motoristas e comerciantes: Nilo, Nelson Baracho, Raimundo da Cruz Teixeira, seu Agenor da Rocha, Alemão Preto, Vicentão, Manezinho Rocha, Zezé, Badé, e do tratorista Chico Parafuso, entre outros mais.
Parte desses personagens por ele citados já morreu, e o restante se aposentou. Todos chegaram a Ouro Preto de 1970 a 1973.
ESTATÍSTICA
PIB: R$ 808,6 milhões (2018)
Renda per capita: R$ 22,2 mil
IDH: 0,682 (médio)

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