
Um levantamento divulgado em 2025 revela um dado que acende um alerta sobre como o Brasil acolhe mulheres vítimas de violência: as igrejas se tornaram um dos principais espaços buscados por mulheres após sofrerem agressões, superando instituições do sistema de segurança pública.
Segundo a pesquisa, 3,7 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de violência somente neste ano. E, diante da última agressão, a atitude mais frequente continua sendo recorrer à rede informal de apoio. 57% das vítimas procuram primeiro familiares, enquanto 53% buscam ajuda em igrejas e outras comunidades de fé — quase o dobro das que procuram as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (28%). Apenas 11% ligam para o número 180, canal nacional de denúncia e orientação.
O estudo aponta ainda que 5% das mulheres não tomam nenhuma atitude, evidenciando que medo, vergonha e desinformação ainda impedem muitas vítimas de buscar ajuda.
Igrejas como refúgio — e o desafio da preparação
O número elevado de mulheres que recorrem às igrejas é explicado pela proximidade das instituições religiosas com a comunidade. Presentes em praticamente todos os bairros do país, elas oferecem escuta acolhedora, laços afetivos e confiança — elementos essenciais para quem enfrenta situações de trauma.
Mas a especialistas Regina Célia Barbosa alerta: embora acolham, muitas igrejas ainda não estão preparadas para orientar corretamente. Em muitos casos, líderes religiosos não possuem formação para lidar com violência doméstica e acabam reproduzindo discursos que podem atrasar a denúncia ou até colocar a vítima em maior risco.
Violência diante de testemunhas
Outro dado preocupante é que 71% das agressões acontecem diante de testemunhas, muitas delas crianças. Isso revela que o impacto ultrapassa a vítima e afeta todo o ambiente familiar, incluindo frequentadores e servidores das próprias igrejas.
O que as igrejas podem fazer?
Para especialistas em direitos das mulheres, comunidades de fé precisam assumir um papel mais estruturado na rede de enfrentamento à violência. Entre as ações recomendadas estão:
Capacitação de pastores, pastoras e líderes, para identificar sinais e orientar adequadamente.
Criação de equipes internas de acolhimento, com articulação direta com serviços públicos.
Encaminhamento imediatodas vítimas para delegacias, Centros de Referência e apoio jurídico e psicológico.
Espaços seguros de escuta, sem julgamentos ou interpretações religiosas que culpabilizem a mulher.
Ações preventivas, como palestras, rodas de conversa e campanhas permanentes.
Formação especializada ganha força
Para atender essa demanda crescente, iniciativas de capacitação têm sido oferecidas a igrejas de diversas denominações. Uma das formações estruturadas recentemente inclui cinco módulos, abordando desde a relação entre ministério cristão e o enfrentamento à violência, passando pela história dos direitos das mulheres, até temas como Lei Maria da Penha, violência dentro das próprias igrejas e planejamento para tornar os templos espaços seguros.
Urgência de uma rede integrada
Com mais da metade das mulheres buscando ajuda no ambiente religioso, pesquisadores e ativistas destacam que igrejas precisam ser aliadas da rede oficial de proteção — e não substitutas.
A violência contra a mulher permanece como uma das maiores chagas sociais do país, e o caminho, segundo especialistas, passa por informação, acolhimento profissional, espiritualidade responsável e articulação com as políticas públicas.
Enquanto isso, o número de mulheres que sofrem agressão — e de crianças que testemunham a violência — mostra que o silêncio ainda é um dos maiores inimigos. As igrejas, por sua presença e influência, podem ser protagonistas na mudança. Mas, para isso, precisam estar preparadas para transformar acolhimento em proteção real.
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